Best 10 quotes of Ilse Losa on MyQuotes

Ilse Losa

  • By Anonym
    Ilse Losa

    A minha mãe escondia os sentimentos; talvez soubesse amar, não sei, mas não sabia nem dizê-lo nem mostrá-lo. Uma noite, eu fingia dormir, entrou sem fazer ruído. Acendeu a luz da mesinha de cabeceira e contemplou-me uns momentos. Teria gostado de abrir os olhos, deitar-lhe os braços ao pescoço, mas o amor é dar e receber, isso adivinhava sem que ninguém mo tivesse ensinado.

  • By Anonym
    Ilse Losa

    Apesar de eu não saber ler, distinguia bem entre as letras hebraicas, impressas no lado esquerdo do devocionário, e as alemãs, no lado direito. As hebraicas agradavam-me mais: vistosas, arredondadas, levavam, por cima e por baixo, pontinhos e tracinhos, dançavam, por assim dizer, livremente no espaço, enquanto as alemãs, impressas a duas colunas, eram magrinhas, hirtas, bem comportadas. O lado das letras hebraicas fazia pensar uma cabeça endiabrada, cheia de caracóis; o outro, das letras alemãs, na cabeça bem penteada duma senhora idosa, com monótona risca ao meio.

  • By Anonym
    Ilse Losa

    As árvores nas margens, cobertas de neve, as raparigas de boina de lã e de mãos medidas no regalo, a música que de tão fogosa aquecia o ambiente, tudo isso pertence aos momentos bué construíram a mesma minha vida, pois que mais é uma vida do que o reportório de momentos? É injusta a Natureza, que priva parte das crianças de um mundo de Inverno branco, de rios gelados em que se dança, para o substituir por chuvas monótonas, por humidade que, agressiva e hostil, nos penetra no corpo. (...) Apetecia-me chorar, não por causa da dor que passou depressa, mas por me sentir o invadida por uma tristeza singular. Era como se alguma coisa de muito belo tivesse desaparecido da minha existência ou como se alguém querido se tivesse despedido para sempre.

  • By Anonym
    Ilse Losa

    Curioso como a mãe do Gil, sem saber ler nem escrever, compreendera que Gil tinha de pintar, absolutamente de pintar, nem que para isso ela tivesse de se sacrificar, de se estafar, de morrer. Intuição e grandeza nascem com as pessoas, do mesmo modo que o talento. A sua mãe não fora dessas mulheres. Não que lhe não quisesse bem, esse querer bem, que corresponde a ver realizados nos filhos os sonhos que não soube realizar.

  • By Anonym
    Ilse Losa

    Enfim, por alguma razão se fazem as guerras, respondeu o avô, levantando as sobrancelhas. Só nas guerras é que os homens podem matar-se uns aos outros sem serem castigados.

  • By Anonym
    Ilse Losa

    Ficámos de novo sem assunto. Olhei à minha volta. O branco é triste como o negro, nunca antes o tinha sentido. (...) Não lhe acariciei a mão, nem lhe pus a minha sobre a testa, num gesto de consolação. Não fiz nada disso. E devia-o ter feito. Mas que a tristeza me dominou, que apeteceu chorar, por ver o meu pai tão doente, isso era verdade. Ele tê-lo-ia compreendido? Decerto é ilusão julgarmos que outras pessoas podem compartilhar dos nossos sentimentos através de simples palavras. Se eu dissesse que vejo na memória um homem encolhido na cadeira, metido num fato largo demais como se não pertencesse, com as mãos amarelo torcidas sobre o ventre e o olhar fixo no chão, alguém o verá como eu o vi?

  • By Anonym
    Ilse Losa

    Invadiu-me um medo estranho. Não queria voltar à solidão do meu quarto. Caminhei pelas ruas de Berlim até à avenida de Kurfürstendamm que, de tão iluminada, era um mundo por si. Nada tinha a ver com o outro, o mundo de todos os dias, cheio de preocupações mesquinhas, em que se comia pingue em vez de manteiga e tomate em vez de carnes frias. Gente bem posta, objectos de luxo, música vindo do interior dos cafés e dos bares.

  • By Anonym
    Ilse Losa

    No fim perguntei ao avô: Por que é que temos de estar encostados? Depois de o povo de Israel ter saído do Egipto deixou de ser um povo de escravos. Só um povo livre é feliz, só um povo livre tem bem estar e comodidades. É por esta razão que nos encostamos.

  • By Anonym
    Ilse Losa

    Se um turista chega a um mundo estranho, onde nem o aspecto exterior, nem a língua, nem os costumes lhe conseguem despertar reminiscências, esse mundo exerce sobre ele um encanto delicioso. Não surge tudo isso que se oferece nos seus olhos - paisagem, costumes e fala - para o seu particular deleite? Não se lhe oferecem todas as características pitorescas para que ele se divirta e tire fotografias? Mas se o mesmo turista se vê, de repente, forçado a permanecer nesse mundo estranho para ganhar o seu pão, o pitoresco torna-se-lhe ambiente quotidiano, os habitantes passam a ser os seus vizinhos, amigos e inimigos e o caso muda inteiramente de figura. O que lhe parecera insólito e exótico ergue-se qual muro espesso entre ele e tudo o que constitui a sua vida, e por muito tempo não passa dum homem à parte, um observador sempre prestes a comparar com este mundo o seu de outrora: um comparsa que, não chegando a pisar o palco, permanece nos bastidores. Por isso o turista é para o estrangeiro domiciliado o que o campista é para um homem que se instalou, de vez, numa cabana.

  • By Anonym
    Ilse Losa

    Uma cidade corresponde sempre às impressões de um forasteiro. Os domiciliados já não conseguem ter impressão alguma.